Os Akhu

Uma geração passa, outra fica em seu lugar,
desde o tempo dos antepassados.

Os deuses que viveram outrora repousam em suas pirâmides,

assim como os bem-aventurados, enterrados em suas pirâmides.

Construíram casas, (mas) o seu local desapareceu.

O que foi feito delas? (...)

Suas paredes esfacelaram-se,

seu local desapareceu como se nunca tivesse existido!

Ninguem volta do lugar (onde se acham)

para contar como estão, para dizer o que precisam,

para serenar nosso coração até irmos para onde eles foram.

(Canto de uma Harpista, tumba de Intef, XI Dinastia)

Tão antiga quanto os cultos aos deuses, os cultos aos ancestrais que em sua cultura milenar, guarda um mistério único muito além do imaginário contemporâneo ocidental. Vista com muitas vezes como “uma forma primitiva de culto”, este tipo de pratica pode ser facilmente mal interpretada como “adoração”, no entanto, os cultos ao ancestrais são sobre tudo, uma forma de respeito a todos os que trabalharam para nossa existência.


Muitas espiritualidades contemporâneas praticam o culto aos ancestrais, entre elas as religiões tribais da África, religiões de matriz africana, Budismo, Xintoísmo, Xamãnismo, Hinduismo e Wicca (de forma bem simplória). No entanto, aqui trataremos sobre os cultos aos ancestrais da forma da Ortodoxia Kemética, que compreende os cultos aos Akhu (lê-se Arru) uma das práticas mais importantes da fé.

Mas, necessariamente, o que são os ancestrais, ou Akhu sob a perspectiva da Ortodoxia Kemética?

"É uma pessoa que enobrece outro, um homem trabalha para seus antecessores, com o desejo de que o que ele fez será embelezado por uma outra que virá depois dele."

(Do Ensino de Merikare (Reino Médio, tradução Faulkner)

Os antigos egípcios acreditavam que ao morrer, o Ba (ver publicação Ba, Ka e Akh ) finalmente ascendia ao céu, podendo assim brilhar no corpo de Nut, ao passar por todos os obstáculos, e ainda provar-se justo na pesagem do seu coração, ele se tornará um Akhu, ou seja, “O brilhante” e brilharia eternamente no céu. Os Akhu não são deuses, nem tão pouco humanos, e sim algo no meio destes.

Isso é um mistério lindo e intrigante, pois os Akhu podem interceder por nós bem como nos proteger e nos ajuda em nossa busca por Ma’at. Por isso é necessário o culto aos ancestrais, mesmo que você não lembra-se deles ou se eles ascenderam antes mesmo de sua existência no plano terrestre, se não conheça, procure saber sobre suas historias. Os Akhu é nossa parte espiritual que esta inteiramente dentro do plano espiritual divino, eles fazem parte de nos, sua força e sabedoria correm por nossas veias por nosso fluido vital que é o sangue. Podemos encontrar dentro de nosso Ib (coração) sua voz a anos aconselhar e nos ajudar, pois tudo o que eles querem e enfim nos encontrar novamente.

Não é necessário você saber os nomes dos seus Akhu para cultuá-los, nem tão pouco, ter sido próximos deles em vida. Muitas pessoas renegam sua família e seus ancestrais, mas saiba que mesmo se você não tiver boas lembranças deles, eles ainda assim, fazem parte de você e você tem que purificar seu coração dessa Isfet e respeitá-los!

Como honrar os Akhu?

Tradicionalmente, nos Ortodoxos Keméticos dedicamos a sexta feira para honrar nossos Akhu, com orações, oferendas de comida e bebida entre outros. Este culto muitas vezes é pessoal, onde você é livre para mostrar sua gratidão e respeito da forma que desejar. Os Akhu sempre respondem a esse culto e você sempre obterá uma resposta quanto se conectar a eles.

Na antiguidade, uma forma bem simples de contactar os mortos era usada, que é a pratica de escrever cartas. Várias destas cartas foram encontradas pelos arqueólogos, e provavelmente sua origem vem do Mito da Contenda de Set e Heru-sa-Aset onde Ra escreve uma carta para Wesir para saber de sua opinião sobre quem deveria ficar com a coroa real. Assim, vários kemeticos antigos para obter respostas dos mortos, escreviam cartas para eles e depositavam nos túmulos e a resposta poderia vim de qualquer maneira. Na cidade sagrada de Abdju (Abydos), milhares e milhares das tais "carta aos mortos", escrita em potes, foram enterrados na areia antes da montanhas sagradas, por milhares de anos, criando um cemitério de comunicação, como se assim fosse. Este lugar hoje é chamado pelos egipcios modernos de "a Mãe de Potes".

No site House of Netjer podemos obter uma “Mãe Virtual dos Potes” para que todos que assim desejarem poder escrever cartas aos seus Akhu.

Não perca tempo, os seus Akhu tem muito o que ensinar a você e você tem muito o que aprender com eles. Suas orações e oferendas serão sempre bem recebidas e seus nomes poderá ser lembrados por anos, e assim, eles jamais iram morrer. Olhe para os céus e saiba que acima de você, seus ancestrais estão a te observar e a olhar por você.

Esta é uma musica que gosto muito de cantar aos meus Akhu e eles sempre se agradam com ela, espero que vocês gostem: