"Tradição não é o culto às cinzas, mas a preservação do fogo"
Gustav Mahler
Não é de hoje que as religiões politeístas estão crescendo no mundo ocidental. Dominado pelo cristianismo o ocidente está cada dia mais voltando seus olhos as religiões politeístas como tentativas de se voltar as suas raízes. As religiões tradicionais politeístas está ganhando força cada dia mais, principalmente em seus lugares de culto, nas regiões nórdicas por exemplo o Heathenismo ou Asatru está ganhando cada dia mais adeptos, na Grecia o Dodecateísmo também vem mostrando um crescimento de praticantes, e até na Rússia o Rodnovaria vem crescendo. É claro que o crescimento de religiões tradicionais politeístas não está restrito somente aos seus locais de culto, as essas religiões chamam a todos que sentem ligação com esse modo de vida. O que não poderia ser diferente com a Ortodoxia Kemética.
A Ortodoxia Kemética é reconhecida internacionalmente como uma Religião Tradicional Africana. Que Kemet é África não temos duvidas, mas o que muitas vezes pode parecer confuso é a questão da tradição. Esse pequeno artigo terá como prioridade buscar elucidar melhor essa questão dentro da nossa religião.
Vamos primeiro compreender o que essa palavra, tradição, significa.
De acordo com Danilo Marcondes em seu livro Dicionário Básico de Filosofia "Tradição (do latim traditio, tradere = "entregar", "passar adiante") é a continuidade ou permanência de uma doutrina, visão de mundo, costumes e valores de um grupo social ou escola de pensamento." A partir disto, compreendemos que Tradição é uma forma de manter viva um pensamento ou uma forma de viver, e é exatamente isso que a Ortodoxia Kemética propõe. Nossa fé não é uma forma de teatro, que busca reproduzir de forma irracional algo feito no passado, nem tão pouco nossas práticas se resumi a rituais ou somente aquele momento especifico que nos doamos aos nossos deuses, enfim, a O.K. é uma forma de vida.
A partir do momento que compreendemos que a O.K é uma religião Tradicional não podemos ser levianos nos cultos a essas divindades, pois o culto tradicional é muito mais profundo, pois engloba questões que vão além de oferendas ou uma liturgia, o culto tradicional é um modo de vida que exige de seu praticante uma disciplina e uma dedicação muito maior que outras formas de cultos.
Um segundo ponto relevante, para compreender a questão, é entender como a Ortodoxia Kemética se caracteriza como Tradicional Africana. Religiões tradicionais africanas envolvem ensinamentos, práticas e rituais, e visam a compreender o divino, dentro dessa visão, a O.K. comunga com as outras religiões e tradições originadas dentro do continente africano em preservar ensinamentos difundidos em Kemet.
Foto de Siathethert |
Qualquer um, em qualquer parte do mundo, ao adotar a O.K. como religião terá que compreender e assim aceitar que as tradições dentro da fé é algo de extrema importância. É um mistério, também chamado de fundamento, pois está ligado aos princípios da tradição religiosa que devem ser tratados com cuidado, podemos dizer que são a base necessária da religião para que esta continue sendo pertencente a uma tradição religiosa. Entendemos também que a Tradição na Ortodoxia Kemética não é algo criado pela Hekatawy I (AUS) (fundadora e atual Nisut da fé) e também não é algo pertencente a nenhum outro Nisut-bity do passado, entendemos que a/o Nisut é o defensor da tradição e dos fundamentos, tem que ser o primeiro/a a defender/proteger/praticar/respeitar as tradições, já que este/a é o principal exemplo a ser seguido pelos outros praticantes.
“Para descobrir um novo mundo, é preciso saber esquecer seu próprio mundo, do contrário, o pesquisador estará simplesmente transportando seu mundo consigo ao invés de manter-se ‘à escuta'", esta frase elucida bem a questão do praticante de uma religião tradicional, pois ao adotar uma tradição para si precisa-se mergulhar em novo mundo com grande respeito, pois acima de tudo é isso que mais exige a Ortodoxia Kemética: respeito as tradições e aos ensinamentos. Ptah-Hotep escreveu "Quanto a você, ensine seu discípulo as palavras da tradição. Que ele sirva de modelo para os filhos dos grandes, para que nele encontrem o entendimento e a justiça de todo coração que lhe fala, visto que o homem não nasce sábio."
Seguir, respeitar e vivenciar a Tradição é Maat!
Bibliografia:
HILTON, Danilo Marcondes (1993). 'Dicionário básico de filosofia, Zahar. p. 269. ISBN 978-85-378-0341-7.
HAMPATÉ BÂ, Amadou. A Tradição viva. História geral da África. Editado por Joseph Ki-Zerbo. – 2. Ed. Ver. – Brasília : UNESCO, 2010, p. 167-212.
JACQ, Christian. The Living Wisdom of Ancient Egypt. 1999
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